“Nas Pegadas dos Ancestrais Saamaka: Uma Viagem Imersiva do Amapá ao Suriname”

Nas Pegadas dos Ancestrais Saamaka: Uma Viagem Imersiva do Amapá ao Suriname

Dec 11, 2025 - 19:06
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“Nas Pegadas dos Ancestrais Saamaka: Uma Viagem Imersiva do Amapá ao Suriname”
BENOIT

Uma jornada histórica, cultural e afetiva está unindo povos separados pelo tempo, pelos rios e pela travessia de seus ancestrais. É a Viagem Imersiva: Nas Pegadas dos Ancestrais Saamaka, um percurso que parte do Amapá (Brasil), passa por Oiapoque, Camopi e Approuague, até alcançar o país Saamaka, no Suriname — a terra de origem de muitos descendentes que hoje vivem entre a Guiana Francesa e o Brasil.

O Retorno às Origens e o Renascimento de Wayapuku

A imersão revive o nome ancestral do Oiapoque, Wayapuku (“Waya”, o galho; “Puku”, longo), revelando a importância dos laços culturais que ainda conectam povos separados pelas fronteiras modernas. A iniciativa nasce do pesquisador Waddy Many Camby Benoit, guianense, filho de pai Saamaka e mãe afro-brasileira, profundamente engajado na preservação da memória histórica e cultural de seu povo.

“Esta ação é um intercâmbio intergeracional, cultural e histórico”, explica Waddy. Seu objetivo é promover o reencontro entre famílias Saamaka espalhadas pela Guiana, Oiapoque e Amapá, fortalecendo vínculos identitários e reconstruindo narrativas apagadas pela história oficial.

O Encontro que deu Origem à Imersão

A iniciativa é continuidade de um ciclo de reflexões iniciado com a conferência de Franklin Jabini, realizada em 26 de setembro de 2025, sobre a libertação do povo Saamaka em 1762 — o Saamaka Daka, marco de 260 anos.

Em 16 de novembro de 2025, Waddy reuniu-se com membros da Associação Cayenne Sembé, em Matoury, para aprofundar a troca de conhecimentos. Desse encontro nasceu o projeto de imersão no Oiapoque.

Sob a liderança de Léo Banafo, a Associação Cayenne Sembé virá ao encontro de famílias Saamaka do leste da Guiana — do Oiapoque ao Amapá — em um momento simbólico:

125 anos da vila de Tampak, e

50 anos da independência do Suriname.


As celebrações se entrelaçam ao Keti Koti (“correntes quebradas”), marco da abolição da escravidão no Suriname e uma data central na identidade afro-surinamesa.

A Chegada dos Saamaka ao Oiapoque: Uma História Pouco Contada

Entre 1850 e 1930, o Oiapoque viveu o auge da corrida do ouro. Foi nesse contexto que os primeiros grupos Saamaka chegaram à região.

As Primeiras Chegadas

Por volta de 1874, documenta-se a chegada de grupos trazidos em embarcações como o Aviso Oiapoque e o Eridan. Muitos permaneceram definitivamente no Brasil, adquirindo nacionalidade e recebendo nomes portugueses — como “Ignacio”.

Esforços de Trabalho e Migrações Internas

Durante os anos 1960 e 1970, trabalhadores Saamaka participaram da construção da barragem de Tucuruí e da expansão da mineração no Pará.
Alguns nomes marcantes dessa trajetória incluem:

Kapiten Lalane, que atuou no alto Mana e no Oiapoque;

O pai de Aboikoni Songo, que trabalhou próximo ao Xingu;

Garimpeiros Saamaka que participaram da epopeia de Serra Pelada, nos anos 1970-1980.


Muitos se estabeleceram definitivamente no Amapá, formando famílias com mulheres ameríndias, quilombolas e afrodescendentes — especialmente em bairros populares de Macapá, como Congós e Laguinho.


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Territórios e Memória Saamaka no Amapá

Entre os principais locais de presença e passagem Saamaka no estado, destacam-se:

Oiapoque (antiga Martinica)

Cabo Orange / Vila Velha do Cassiporé

Cachipoux e o território Uaçá

Cunani e Calçoene

Serra do Navio e Amapari (área de mineração desde os anos 1940)

Pedra Branca, local nomeado pelos próprios Saamaka, em interação com xamãs Oyampi, Teko e Wayana.


A grande travessia final registrada é a de Man Tolinga, vindo do Suriname, atravessando o Maroni, Camopi e alcançando o Oiapoque.

A Presença Fluvial e os Pirogueiros

No Território de Inini, até os anos 1970, famílias Saamaka viviam em afluentes de Camopi, como Inipi e Alikéné. Muitos se tornaram mestres do rio, reconhecidos pela habilidade no manejo de pirogas — entre eles:
Amet, Bali, Wady, Roger e Antony.

As Famílias de Origem Saamaka de Tampak

As atuais famílias de Tampak descendem principalmente das aldeias:

Adaisso (Soolan)

Piwa Kampou

Mano (Benékondé)

Leonel (Soolan)

Alexi (Benékondé)

Amét (Gan Seie)

Waddy Goodo (Ganseié)

Anatole (Maipa)


Seus nomes ecoam ainda na memória coletiva, lado a lado com figuras como Castrova (Comandante Kodji) e Mathias Mapa.

Um Encontro para Reatar Vínculos, Resgatar a História e Construir Futuro

A Viagem Imersiva não é apenas um retorno físico aos territórios ancestrais. É um movimento político, cultural e espiritual para reaproximar famílias separadas pela história da escravidão, migrações forçadas e trabalho nas frentes garimpeiras.

A iniciativa fortalece a identidade dos descendentes Saamaka do Oiapoque, Amapá e Guiana Francesa, resgata lembranças apagadas e cria pontes para novas gerações compreenderem suas origens.

É, sobretudo, um gesto de reparação, memória e pertencimento.

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João Ataide João Ataide, reporte e administrador do Portal O Viajante.