“Nas Pegadas dos Ancestrais Saamaka: Uma Viagem Imersiva do Amapá ao Suriname”
Nas Pegadas dos Ancestrais Saamaka: Uma Viagem Imersiva do Amapá ao Suriname
Uma jornada histórica, cultural e afetiva está unindo povos separados pelo tempo, pelos rios e pela travessia de seus ancestrais. É a Viagem Imersiva: Nas Pegadas dos Ancestrais Saamaka, um percurso que parte do Amapá (Brasil), passa por Oiapoque, Camopi e Approuague, até alcançar o país Saamaka, no Suriname — a terra de origem de muitos descendentes que hoje vivem entre a Guiana Francesa e o Brasil.
O Retorno às Origens e o Renascimento de Wayapuku
A imersão revive o nome ancestral do Oiapoque, Wayapuku (“Waya”, o galho; “Puku”, longo), revelando a importância dos laços culturais que ainda conectam povos separados pelas fronteiras modernas. A iniciativa nasce do pesquisador Waddy Many Camby Benoit, guianense, filho de pai Saamaka e mãe afro-brasileira, profundamente engajado na preservação da memória histórica e cultural de seu povo.
“Esta ação é um intercâmbio intergeracional, cultural e histórico”, explica Waddy. Seu objetivo é promover o reencontro entre famílias Saamaka espalhadas pela Guiana, Oiapoque e Amapá, fortalecendo vínculos identitários e reconstruindo narrativas apagadas pela história oficial.
O Encontro que deu Origem à Imersão
A iniciativa é continuidade de um ciclo de reflexões iniciado com a conferência de Franklin Jabini, realizada em 26 de setembro de 2025, sobre a libertação do povo Saamaka em 1762 — o Saamaka Daka, marco de 260 anos.
Em 16 de novembro de 2025, Waddy reuniu-se com membros da Associação Cayenne Sembé, em Matoury, para aprofundar a troca de conhecimentos. Desse encontro nasceu o projeto de imersão no Oiapoque.
Sob a liderança de Léo Banafo, a Associação Cayenne Sembé virá ao encontro de famílias Saamaka do leste da Guiana — do Oiapoque ao Amapá — em um momento simbólico:
125 anos da vila de Tampak, e
50 anos da independência do Suriname.
As celebrações se entrelaçam ao Keti Koti (“correntes quebradas”), marco da abolição da escravidão no Suriname e uma data central na identidade afro-surinamesa.
A Chegada dos Saamaka ao Oiapoque: Uma História Pouco Contada
Entre 1850 e 1930, o Oiapoque viveu o auge da corrida do ouro. Foi nesse contexto que os primeiros grupos Saamaka chegaram à região.
As Primeiras Chegadas
Por volta de 1874, documenta-se a chegada de grupos trazidos em embarcações como o Aviso Oiapoque e o Eridan. Muitos permaneceram definitivamente no Brasil, adquirindo nacionalidade e recebendo nomes portugueses — como “Ignacio”.
Esforços de Trabalho e Migrações Internas
Durante os anos 1960 e 1970, trabalhadores Saamaka participaram da construção da barragem de Tucuruí e da expansão da mineração no Pará.
Alguns nomes marcantes dessa trajetória incluem:
Kapiten Lalane, que atuou no alto Mana e no Oiapoque;
O pai de Aboikoni Songo, que trabalhou próximo ao Xingu;
Garimpeiros Saamaka que participaram da epopeia de Serra Pelada, nos anos 1970-1980.
Muitos se estabeleceram definitivamente no Amapá, formando famílias com mulheres ameríndias, quilombolas e afrodescendentes — especialmente em bairros populares de Macapá, como Congós e Laguinho.
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Territórios e Memória Saamaka no Amapá
Entre os principais locais de presença e passagem Saamaka no estado, destacam-se:
Oiapoque (antiga Martinica)
Cabo Orange / Vila Velha do Cassiporé
Cachipoux e o território Uaçá
Cunani e Calçoene
Serra do Navio e Amapari (área de mineração desde os anos 1940)
Pedra Branca, local nomeado pelos próprios Saamaka, em interação com xamãs Oyampi, Teko e Wayana.
A grande travessia final registrada é a de Man Tolinga, vindo do Suriname, atravessando o Maroni, Camopi e alcançando o Oiapoque.
A Presença Fluvial e os Pirogueiros
No Território de Inini, até os anos 1970, famílias Saamaka viviam em afluentes de Camopi, como Inipi e Alikéné. Muitos se tornaram mestres do rio, reconhecidos pela habilidade no manejo de pirogas — entre eles:
Amet, Bali, Wady, Roger e Antony.
As Famílias de Origem Saamaka de Tampak
As atuais famílias de Tampak descendem principalmente das aldeias:
Adaisso (Soolan)
Piwa Kampou
Mano (Benékondé)
Leonel (Soolan)
Alexi (Benékondé)
Amét (Gan Seie)
Waddy Goodo (Ganseié)
Anatole (Maipa)
Seus nomes ecoam ainda na memória coletiva, lado a lado com figuras como Castrova (Comandante Kodji) e Mathias Mapa.
Um Encontro para Reatar Vínculos, Resgatar a História e Construir Futuro
A Viagem Imersiva não é apenas um retorno físico aos territórios ancestrais. É um movimento político, cultural e espiritual para reaproximar famílias separadas pela história da escravidão, migrações forçadas e trabalho nas frentes garimpeiras.
A iniciativa fortalece a identidade dos descendentes Saamaka do Oiapoque, Amapá e Guiana Francesa, resgata lembranças apagadas e cria pontes para novas gerações compreenderem suas origens.
É, sobretudo, um gesto de reparação, memória e pertencimento.
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