Tampack: Território Ancestral de Encontro, Resistência e Memória no Rio Oiapoque
Tampack é uma comunidade ancestral situada às margens do rio Oiapoque, no lado guianense. O lugar guarda uma história profunda de resistência, cultura viva e ancestralidade compartilhada. Quando os Saamaka chegaram à região, encontraram povos indígenas já estabelecidos, especialmente os Wajãpi. Com respeito, pediram um pedaço de terra para morar — pedido que foi aceito. Naquele tempo, o território foi dividido, e os dois povos passaram a viver lado a lado, uma convivência que atravessou gerações e permanece visível até os dias atuais.
Ao caminhar pela vila, é possível perceber marcas dessa relação com a terra e com a floresta: pés de cacau, fruta-pão, cuieira, além de diversas plantas medicinais, saberes transmitidos de forma oral e prática. A população de Tampack tem origem tanto Saamaka quanto Wajãpi, e em diferentes momentos da história ocorreram casamentos entre esses povos, fortalecendo ainda mais os laços culturais e familiares.
A comunidade também preserva lugares sagrados, conhecidos como “lugares restritos”. O acesso a esses espaços só é permitido mediante autorização dos líderes espirituais, reafirmando o respeito às tradições, aos ancestrais e às forças que protegem o território.
Um aspecto que chama atenção em Tampack são as casas antigas, muitas delas fechadas. Segundo a tradição local, quando o último morador de uma casa falece, ela é fechada. Caso nenhum familiar retorne para reivindicar o que foi deixado, tudo permanece em seu interior, seguindo o destino da própria casa, que se deteriora com o tempo, junto com as memórias ali guardadas.
Atualmente, Tampack vive um processo importante de resgate e fortalecimento cultural, impulsionado principalmente pela juventude. Um exemplo é Nazi, funcionário público em São Jorge, que aos fins de semana retorna à comunidade para contribuir com ações de pertencimento, respeito e valorização das tradições. Pelo seu compromisso com a memória e o futuro da vila, ele pode ser chamado de um verdadeiro guardião de Tampack.
Por João Ataíde o Viajante.
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