Apagão no Amapá: o que o Brasil só vê agora faz moradores sofrerem há tempos
Apagão no Amapá: o que o Brasil só vê agora faz moradores sofrerem há tempos
Em um lote do Ramal de Carapina, no bairro Ilha de Santana, no Amapá, a cena de um homem pregando telhado em uma estrutura de madeira pode até passar despercebido por quem percorre aquelas ruas, mas, para Elisangela Pereira dos Santos, 37 anos, aquela estrutura, queimada e cheia de fuligem, é o que sobrou da sua casa, após um incêndio em 28 de outubro.
O chão de cimento que desenha a divisão da casa, ainda sujo pelo fogo, é onde a família vai dormir até conseguir se organizar. O incidente aconteceu antes mesmo apagão provocado por um incêndio na principal subestação de energia do estado, e moradores relatam que prejuízos ligados ao fornecimento de energia não são novidade, com histórico de aparelhos aparelhos eletrônicos danificados e dificuldade de acesso a água, por falta de bombeamento.
Elisangela estava no interior do estado protegendo a família da Covid-19 quando soube, por uma vizinha, que sua casa havia pegado fogo levando tudo o que ela tinha. A mulher, empregada doméstica, relata que no dia do ocorrido a energia da região estava instável, como de costume, e, em uma das idas e voltas, gerou o incêndio que destruiu o imóvel. Abalada com a situação, a moradora desabafa.
“Eu me sinto muito triste porque queimou todas as minhas coisas, minha casa que eu construí com tanto sacrifício. Sofri muito para conseguir erguer, porque meu marido não tem trabalho, nem meus filhos, nem eu. Com um pouquinho que um ajudava a gente tinha conseguido construir a casa. Quando eu cheguei, as coisas que tínhamos comprado com maior sacrifício estavam destruídas, não consegui salvar nada”. São quatro anos vivendo ali.
O Amapá chega neste sábado (14) ao 12º dia de apagão com 13 das 16 cidades sem o fornecimento regular de energia elétrica, mas os problemas com eletricidade na região não são novidade. A queda de energia constante e que teria causado o incêndio também dificultou o controle das chamas.
Os vizinhos, de forma improvisada, agiram para tentar conter os danos. A tentativa era captar água dos poços artesianos, mas a bomba hidráulica usada para levar água à superfície não pode ser usada sem eletricidade.
“Eles carregavam nos baldes o pouco de água que tinha nas caixas d'água, mas não conseguiram apagar. Era pouca água e o fogo foi muito rápido", conta a vítima do incêndio.
O esposo de Elisangela, José Macedo Cruz, 44 anos, é quem tenta consertar o telhado e improvisar a nova moradia. O auxiliar de serviços gerais aproveita vigas de madeira que restaram do incêndio e, com uma lona plástica, ensaia uma nova casa com as próprias mãos.
É ali onde o casal e os sete filhos vão viver até que consigam reconstruir a casa — enfrentando chuva, sol e a crise de energia. “Eu mesmo construo. A gente não tem condição de pagar o carpinteiro", lamenta o homem, que busca qualquer emprego na área de serviços gerais para compor renda. Ele também diz aceitar doações de materiais de construção novos e usados.
Rodízio também gera problemas
A 31 quilômetros da capital, no município de Magalzão, outra casa foi completamente destruída por um incêndio registrado logo após o retorno da energia em sistema de rodízio. A residência de madeira, na zona rural, foi rapidamente tomada pelas chamas e nada restou. O Corpo de Bombeiros investiga o caso.
A Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA) faz rodízio de fornecimento de energia aos municípios em turnos de 3 em 3 horas e de 4 em 4 horas. A crise no abastecimento começou na noite do dia 3 de novembro, após um incêndio atingir a principal subestação do estado.
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