O que se sabe até agora sobre a nova variante do coronavírus detectada na África do Sul

Cientistas precisam de mais tempo para descobrir se a B.1.1.529 é mais transmissível, resistente às vacinas em uso e capaz de provocar casos mais graves de covid-19

Nov 26, 2021 - 20:18
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O que se sabe até agora sobre a nova variante do coronavírus detectada na África do Sul

O temor que se espalha mundo afora com as notícias sobre a nova variante do coronavírus, detectada inicialmente em Botsuana, no sul do continente africano, e depois em maior número de casos na África do Sul, ainda se assenta sobre muitas dúvidas. Nesta sexta-feira (26), a Organização Mundial da Saúde (OMS) batizou a nova cepa africana de Omicron, classificada como "variante de preocupação".

Fernando Spilki, virologista da Universidade Feevale, explica que a B.1.1.529, nomeada como Omicron, de acordo com o alfabeto grego, apareceu de forma mais expressiva em uma província no nordeste da África do Sul, em um surto entre estudantes universitários. Ao longo das últimas três semanas, o número de casos aumentou – a Omicron também já foi detectada em Hong Kong, Bélgica e Israel –, chamando a atenção de especialistas que integram o consórcio de universidades responsável pela vigilância genômica sul-africana. 

— A surpresa deles ao sequenciar essas amostras foi encontrar um vírus que tem um acúmulo de 32 mutações no gene da proteína Spike. Para as pessoas terem uma ideia, é mais ou menos o número de mutações que encontramos, às vezes, no genoma inteiro de uma linhagem nova de variante de sars-cov-2 — comenta Spilki, coordenador da Rede Corona-ômica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.  

Cientistas acreditavam, inicialmente, que a nova variante seria chamada de Nu  (a pronúncia é “Ni”), seguindo o alfabeto grego, que é utilizado para nomear as cepas do coronavírus que surgem ao longo do tempo. No entanto, a OMS decidiu, nesta sexta-feira (26), utilizar  Omicron. 

A proteína Spike está relacionada à capacidade de entrada do coronavírus nas células do corpo humano. O sistema de defesa do organismo, bem como a maior parte das vacinas em uso contra a covid-19, tem a Spike como alvo para conter a ação do vírus. 

— É um vírus bem diferente. Por enquanto, o que sabemos é que deve ter uma capacidade de transmissibilidade alta porque essa região (África do Sul) vinha sendo muito impactada pela Delta e, mesmo assim, ele apareceu — complementa Spilki, em alusão ao “combate” que se estabelece entre variantes com o surgimento de uma nova em determinada localidade.  

É necessário aguardar para saber se a variante pode ser neutralizada pelos imunizantes atuais, se é mais transmissível e se pode causar doença mais grave.  

— Já se imagina uma transmissibilidade bastante alta — diz o professor da Feevale.  

Conforme Spilki, vinha sendo observada, por pesquisadores, certa constância no número de mutações do sars-cov-2. O surgimento da variante dá a ideia de que pode ocorrer uma aceleração nesse processo.  

— Já encontramos um incremento na velocidade de mutações no Rio Grande do Sul, não tão violento quanto esse da África do Sul. Mas, sim, essa variante pode apontar para uma onda de aumento de velocidade. É algo que precisamos avaliar também com outros achados nas próximas semanas. Se isso, de fato, se consolidar, seria uma repetição do que vimos no ano passado — comenta o virologista, referindo-se a variantes como Alfa, Beta e Delta, por exemplo. 

O período de poucas informações alarma alguns cientistas, enquanto outros pedem cautela enquanto não obtêm dados mais objetivos. Em entrevista coletiva para a imprensa, John Nkengasong, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da União Africana, ponderou:

— Existem muitas variantes, mas algumas não têm influência sobre a evolução da epidemia. 

África do Sul tem aumento de infecções

O  Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis da África do Sul, em comunicado, informou que o número de casos detectados e o percentual de testes positivos estão aumentando rapidamente, em especial na província mais populosa de Gauteng, onde estão as cidades de Pretória e Johannesburgo.

As estruturas de saúde devem esperar uma nova onda de pacientes nos próximos dias ou semanas, alertaram os cientistas. A África do Sul, oficialmente o país mais afetado pelo vírus no continente, vem registrando novo aumento de infecções nas últimas semanas.

Atribuído primeiramente à variante Delta, o aumento "exponencial" das infecções foi provocado por esta nova variante, o que representa "uma grande ameaça", segundo o ministro da Saúde, Joe Phaahla.

— Este inimigo invisível com o qual lidamos é muito imprevisível — acrescentou Phaahla.

A África do Sul tem quase 2,9 milhões de casos de covid-19 e 89,6 mil mortes em decorrência da doença. Mais de 1,2 mil casos novos, em um período de 24 horas, foram contabilizados na quarta-feira (24), contra cem no início do mês.

As autoridades temem uma nova onda de pandemia até o final do ano, pois apenas 35% dos adultos com os requisitos necessários estão totalmente vacinados.

Globalmente, a Europa voltou a ser o epicentro da pandemia. A Áustria impôs recentemente novo confinamento, a França anunciou reforço das medidas sanitárias, e a Alemanha ultrapassou os 100 mil óbitos.

O sars-cov-2 já matou mais de 5,16 milhões de pessoas em todo o mundo desde seu aparecimento na China, no final de 2019.

A OMS estima que, considerando-se o excesso de mortalidade direta e indiretamente ligado à covid-19, o número de vítimas da pandemia pode ser de duas a três vezes superior.

*Com agências.

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João Ataide João Ataide, reporte e administrador do Portal O Viajante.