Uma história de reencontro

Em 2021, um senhor aparentemente desorientado apareceu na cidade de Amapá, no estado do Amapá, e chamou a atenção da população local ao armar sua rede em uma lanchonete ao lado da praça central. Movido pela curiosidade e pelo senso de responsabilidade social, publiquei na época uma matéria relatando o caso, que rapidamente mobilizou autoridades e a comunidade.

O homem, que se identificava como Raimundo Ferreira Cabral, dizia ter família na Guiana Francesa, mas estava sem documentos e apresentava sinais de problemas de saúde e desorientação. A pedido do Ministério Público, ele foi acolhido no Abrigo dos Velhos da cidade, onde, segundo informações mais recentes, vive com dignidade e cuidado até hoje.

Quatro anos se passaram desde então. No início de maio de 2025, fui surpreendido com uma mensagem vinda da França. Julie, companheira de Stéphane — um homem que mora norte da França na cidade de Pays de la Loire — entrou em contato dizendo acreditar que o senhor Raimundo, da matéria de 2021, seria o pai desaparecido de Stéphane.

Stéphane compartilhou seu relato emocionado:

> “Me chamo Stéphane. O relato da mamãe permanece vago — as lembranças e as datas vão desaparecendo pouco a pouco. Meu pai teria saído para caçar numa manhã de quarta-feira, como de costume, ficando fora por vários dias. Ele voltou na manhã de sexta-feira, passou um tempo com a mamãe, com minha irmã Corine e comigo, que tinha apenas alguns meses de idade. Mamãe conta que, à tarde, as forças da ordem teriam chegado para levá-lo. Mamãe ia visitá-lo na prisão conosco, até o dia em que ele passou pelo tribunal. A decisão foi que ele deveria ser repatriado ao Brasil, com proibição de visto e de entrada no território.”

Desde então, a família — mãe, filhos e a companheira de Stéphane — tentou reencontrar o patriarca, sem sucesso. Até que, no dia 1º de maio de 2025, a mãe de Stéphane viu as fotos da matéria feita em Amapá e reconheceu, com emoção, aquele que poderia ser seu companheiro perdido.

> “Então compartilhei com Julie, a mãe dos meus filhos, para que ela começasse a fazer suas pesquisas. Ela então encontrou o nome do jornalista, a data e a hora da matéria. E foi nesse momento que ela entrou em contato com você”, relatou Stéphane.

Agora, um novo capítulo se abre nessa história marcada por separação, esperança e um possível reencontro. A família busca, com cautela e emoção, confirmar a identidade e, quem sabe, reconstruir os laços interrompidos pelo tempo e pelas fronteiras.

Por João Ataide o Viajante