O GARROTE NA REGIÃO DOS LAGOS DE AMAPÁ
Uma viagem ao lago do Bom Nome na região do Garrote.
A região de Amapá é de uma biodiversidade fenomenal, exótica e fascinante. Um Amapá conhecido por poucos que o Amapá não conhece. Para mostrar esse fascinante lugar, a união dos canais Freedrone 1, o Viajante, Alcimar Monteiro e Instituto CHAP, para narrar as maravilhas desse lugar. Uma viagem a essa região do Garrote.
Assim é chamado o lugar onde se concentra grandes fazendas. O nome Garrote sugere a criação de gado, no entanto, é o nome da gleba de 9 mil hectares, dividida entre as famílias: Colares, Barauna, Lages, e Doutor Cabral. Essas terras, das quais só a da família Colares tem 60 anos, hoje administrada por Dejaci Collares e Iraçu Colares foi comprada pelo patriarca da família de Enriqueta Távora. Para se chegar ao lugar exitem três formas: 1 durante o período chuvoso vai de motor rabeta pelos campos alagados; 2 - a cavalo durante o verão e 3 a mais difícil delas via Oceano depois entra no Rio Amapazinho passando pelo igarapé do tijolo.
No caminho pode ser vistas no Lago do Bom Nome as Feitorias, casas estilo ribeirinhas que são chamadas de “feitorias” construídas por pescadores de lago, que mesmo sendo em grande parte dentro dos terrenos dos referidos a força da tradição cultural faz a permanência e convívio em harmonia preservando uma tradição secular na região. Para esses lados a denominação tem outra conotação, mas os princípios são os mesmos, o pescador chama de feitoria ao lugar de guardar o peixe e os equipamentos de pescas, segundo o dicionário “Uma Feitoria é um lugar ou estabelecimento, que pode ou não ser fortificado, geralmente situado junto a um porto, e que funcionava como um entreposto comercial para as trocas comerciais com os naturais da região ou com os mercadores que aí se deslocavam. Muito do comércio português nos territórios descobertos na época dos descobrimentos era efetuado através das feitorias aí fundadas. A primeira dessas feitorias foi a Feitoria de Arguim na costa africana”.
Para nos apresentar esse paraíso, Dejacy Colares, que herdou do pai a paixão pelo lugar, assim como a vida simples do campo, relata que antes de chegar nessa região eles se estabeleceram na região do (Pracuúba), conta que andava no lombo do boi quando ainda estava no jardim de infância. Quando criança viu o rio Garrote vira lago e navegável, que conforme o tempo e ação humana foi açorando, dessa forma a natureza fez o seu caminho rumo ao Garrote, por muitas vezes ajudou o seu pai abrir o caminho da vazão da água. As lembranças de um apaixonado pela área são imensas e para dividir esse privilegio da lembrança é preciso uma imersão, uma excursão reveladora de um grupo de jovens aventureiros e apaixonados pelo município de Amapá que divulgam essas lindas histórias.
LAGO DO Bom Nome.
Uma jornada que começa na cidade de Amapá, partindo do porto da Joana indo rio a baixo pelo Flechal, numa entrada no braço esquerdo do rio no sentido da ponte das queimadas conforme a maré. Uma subida conforme o remanso do rastro do lago estilo pântano onde o Tamuatá faz morada.
Na média 3 horas de viagem, tendo como resultado da penosa jornada uma paisagem fenomenal disputada por Marecas, Guarás, Flamingos. Na paisagem do lago compõe a sena as residências dos pescadores, aqui chamadas de Feitorias, normalmente casas sob o lago com uma coberta de lona, assoalho com as estruturas em madeiras extraídas nas redondezas. Essas feitorias servem para guardar o peixe pescado durante o dia, aliás é a principal atividade no lago. Todo o pescado tem como destino a cidade, numa ligação de comercialização direta com o comerciante, fora os que “barela” com o pescador, uma expressão usada pelo pescador laguista se referindo ao comerciante que fica devendo ao pescador fulano “barelou com beltrano”.
Nessa viagem ao lago conhecir Toninho e Dona Ivete, casal que escolheram viver neste lugar fazendo o caminho inverso, vão à cidade para comercializar o peixe comprar mantimentos e retornam. Eles são os guardiões desse santuário exuberante de difícil descrição para se expressar só com palavras. Onde a natureza foi generosa.
“Campo que foi LAGO, lago campo foi, no inverno come o peixe e no verão come o boi” parte dos versos cantados por Rosinaldo Maia. Um professor que relata esse fenômeno há tempos em que tomo o conhecimento por um extenso obras, um grito silencioso há anos denuncia, registra e chama atenção para a beleza desconhecida por muita gente. Conhecer outras realidades sempre foram o meu desejo. Contemplar um amanhecer no lago Bom Nome é amanhecer com um coral do canto dos pássaros com o canto solo das Marrecas. Um canto recheado de alegria por um novo raiar do dia, ver o sol nascer fazendo sombra no voo do pássaro entre o sol e o lago num vai e vem dos pássaros procurando o seu lugar para também presenciar o novo dia.
Minha visita ao lago Bom Nome se deu no final do mês de julho (2020) em que ainda é possível a passagem via o Porto da Dona Joana. Tres horas de viagem. Depois desse período para chegar ao lago somente pelo oceano. Nesse período o lago vai dar espaço para o pasto de boi em que o lago vira o pasto retratado pela música do professor Maia, um professor de história, um gênio que como poucos descreve a beleza desse lugar.
Lanço de São Miguel
O lanço de São Miguel é um fenômeno relatado pelos pescadores um fenômeno que em princípio mete medo. Acontece quando há uma mudança de água doce para salgada. Momento temido para o lago Bom Nome, pois nesse lance de água a salgada invade onde antes foi doce causando mortandade de peixe. A água vem como pororoca invadindo o lago. Morre tudo quanto é peixe. Esse fenômeno acontece conforme o lago vira pasto com uma maior incidência no mês de setembro. Ouvi muitos comentários, rios que além da mortandade, quando a palheta do motor usado pelos pescador bate na água salgada faísca fogo. O mês de setembro é um mês de preocupação para o pescador “laguista” momento de morte e renascimento.
Reservo essa parte para terminar e falar desse personagem da história. Ernesto Pereira colares, grande fazendeiro da região. Saia de casa em casa da redondeza convidando para embarque de gado. Não escutava bem, mas foi muito querido nessa região. Respeitado todo final de ano presenteava as famílias com Rezes incentivando a criação. Ernesto pai de jocelin colares, pai de Dejacy Coleres, essa família um exemplo de perseverança e admiração por parte das pessoas da região do Garrote, tinha um jeito de cultivar as amizades da região, um jeito justo de administrar herdados por filhos e netos. Zezinho um dos moradores mais antigos da região relata que em tempos de embarque de gado, o senhor Ernesto mandava aviso nas redondezas para fazerem parte a empreitada, pois, sabiam que sempre teria uma recompensa. No final de cada ano presenteava as famílias com rezes, muitos criadores pequenos começaram assim. Seu nome é imortalizado como uma justa homenagem em uma das ruas na cidade de Amapá. Ele é pai de jocelim colares e avô, dentre outros de Dajacy Colares que hoje administra a propriedade iniciada pelo avô. Vivenciar e poder trazer um pouco dessas realidades de lugares que o estado do Amapá desconhece, dá visibilidade a micro-história nos move estivemos de 23 a 27 de julho, acompanhado de sócios-fundadores do Instituto CHAP e familiares de Antônio de Moraes (Tonhão) e Alcimar Monteiro. Realizamos uma excursão ao lago do Bom Nome que fica dentro da Gleba do Garrote na região das fazendas. Uma propriedade de terra divididas entre os principais produtores de gado de corte do município de Amapá.
No meio existe uma questão cultural em parte respeitada que é o pescador laguistas ou o pescador de lago. Nesse lugar se pesca maior parte do pescado de água doce durante 6 a 7 meses. Sendo que duas famílias pescam durante o ano todo em poças de água doce em algumas partes. Nessa reserva natural, um santuário para algumas espécies como marrecas, Tuiú, Flamingos, Guaras, aves exóticas, em anos alternados compõem a paisagem do lugar.
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