Todos os dias, dezenas de caminhões sobem e descem as estradas federais e estaduais do Maranhão. Parte dessa frota abastece a AVB – Aço Verde do Brasil, em Açailândia. A outra leva matéria-prima para a Suzano Papel e Celulose, instalada em Imperatriz.
São dois gigantes econômicos que não podem parar. Mas a engrenagem que sustenta esse crescimento tem um custo: a devastação do Cerrado e da Amazônia maranhense.
Cerrado e babaçu sob ataque
A AVB se fortalece consumindo o Cerrado em áreas como Urbano Santos, Anapurus e Santa Quitéria. A Suzano expande seus eucaliptais sobre a floresta amazônica e sobre os babaçuais do Tocantins maranhense.
O enredo não é novo. Há mais de quatro décadas, o oeste do Maranhão convive com a mesma narrativa: grilagem de terras, monocultura do eucalipto, carvão, guserias, celulose e aço. Termos que simbolizam a ascensão de grupos empresariais de fora do estado, impulsionados por financiamento público.
Empresários dessas corporações são celebrados como exemplos de superação. Recebem homenagens e prestígio social. Já o povo maranhense, que sente diretamente o impacto, permanece invisível.
A realidade de comunidades tradicionais contrasta com o discurso oficial do “desenvolvimento”. Enquanto alguns acumulam riqueza, milhares enfrentam a perda do território, da floresta, da água e da soberania alimentar.
Entre os que resistem está dona Maria Moraes, moradora da comunidade Canaã, em Imperatriz. Em disputa com a Suzano, ela lembra suas origens em São Benedito do Rio Preto, no Baixo Parnaíba, onde aprendeu com a mãe a quebrar coco babaçu.
Ao reencontrar os babaçuais em Canaã, retomou o trabalho. Em uma reunião do Fórum Carajás com quebradeiras de coco, mesmo debilitada pela diabetes, preparou arroz com fava e tambaqui para os participantes. “Desculpem, não posso oferecer mais”, disse, demonstrando o contraste entre a abundância da solidariedade e a escassez imposta pela exploração.
Histórias como a de dona Ivanísia, vinda do Vale do Pindaré, também se repetem. Ela quebra coco, extrai azeite e prepara garrafadas, provando que é possível sustentar modos de vida enraizados no extrativismo e no cuidado com a terra.
Desenvolvimento para quem?
Enquanto o aço e o papel movimentam cifras bilionárias, comunidades inteiras lutam para preservar o que resta: o babaçu, a floresta, a água e o direito a uma vida digna.
O “progresso” que atravessa as estradas do Maranhão em carretas pesadas deixa para trás um rastro de destruição e esquecimento. Mas também encontra resistência na força silenciosa de mulheres e homens que, entre coco e garrafadas, insistem em manter vivo o que as grandes empresas tentam apagar.
Reportagem de João Ataíde – O Viajante & Mayron – GTA